Em 8 de março, é universalmente celebrado o Dia Internacional da Mulher. Anualmente a data é celebrada com comemorações e reflexões sobre o estado atual dos direitos das mulheres pelo mundo, mas o sentido político que deu início ao dia parece ter se perdido.
por Guilherme Siqueira, Larissa Capistrano, Paulo Roberto Maciel e Victor Stilita.
Apesar do sentimento generalizado de positividade ampliado na data, ela iniciou relacionada ao direito do trabalho digno, que por anos foi negado a mulheres ao redor do mundo. Quando um dia internacional das mulheres foi primeiro proposto pela Alemanha, na Conferência Internacional de Mulheres Trabalhadoras de 1910, não recebeu muito apoio. Mesmo a Organização das Nações Unidas só a adotou ao calendário em 1975.
Hoje, os direitos fundamentais das mulheres à saúde, segurança, educação e trabalho ainda não são universalmente assegurados, e em muitos países o movimento é contrário aos esforços pela igualdade de gêneros. Por isso a atividade das mulheres dessa lista se torna ainda mais marcante, ao se tornarem referências para todas as pessoas nas relações internacionais, ciências, ativismo político, esporte e resistência.
Neste dia internacional das mulheres, a SONU celebra a vida, obra e conquistas de algumas das principais figuras mundiais nos mais variados campos.
1. Bertha Lutz
Seria impossível começar essa lista com qualquer outro nome além de Bertha Maria Júlia Lutz. A bióloga brasileira foi essencial durante a criação da ONU e a escrita da Declaração Universal de Direitos Humanos, lutando na recém fundada organização pelos direitos das mulheres ao redor do mundo. Ela era uma das poucas mulheres presentes na conferência e liderou o movimento para a menção da igualdade de gênero na carta da ONU.
Além do seu ativismo político internacional, ela foi fundamental no movimento feminista brasileiro, sendo uma das fundadoras da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, organização protagonista na campanha pelo direito das mulheres votarem e serem votadas e outros direitos das mulheres brasileiras.
Bertha teve uma vida exemplar em serviço da emancipação política feminina, pauta que carregou também durante seu mandato como deputada na Câmara Federal. A cientista foi membro de diversas associações, como a Sociedade Internacional das Mulheres Geógrafas, a Aliança Internacional pelo Sufrágio Feminino e Igualdade Política entre Sexos, a Comissão Feminina Consultiva do Trabalho da Mulher, o Escritório Internacional do Trabalho, da Sociedade das Nações, o Escritório Internacional de Proteção à Natureza e o Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque.
2. Christiane Amanpour
No jornalismo, Christiane Amanpour é sinônimo de grandes coberturas internacionais e entrevistas com líderes globais, sendo a principal correspondente internacional da CNN há mais de 30 anos. Filha de pais iranianos que mudaram-se para Teerã quando Amanpour ainda era jovem, seu primeiro contato com eventos de escala global foi em 1979, com a Revolução Iraniana. A derrubada do Shah Reza Pahlevi pelo Ayatollah Khomeini representou uma mudança drástica de rumos para o Irã e uma completa mudança de vida para Christiane, cuja família foi perseguida e forçada a se mudar para os Estados Unidos.
Nos EUA, Christiane, impactada em primeira mão pelos acontecimentos no Irã, buscou estudar o jornalismo. A primeira grande cobertura internacional de Amanpour foi a Guerra do Golfo em 1991, que a tornaria uma das principais vozes do jornalismo internacional e como a principal correspondente internacional da CNN.
Sua abordagem de cobrir eventos internacionais in loco e suas habilidades como entrevistadora incisiva e objetiva, renderiam diversas honrarias internacionais tanto dentro do jornalismo quanto fora; Amanpour recebeu em 2002 um Prêmio Edward R. Murrow e em 2007 foi agraciada como Comandante do Império Britânico (CBE), uma das principais honrarias do Reino Unido.
3. Maria Ressa
Maria Ressa é uma jornalista filipina e fundadora e editora-chefe do Rappler, um portal cujas matérias criticam a postura do presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, e denunciam a corrupção em diferentes níveis do governo. Devido a sua coragem ao enfrentar um regime autoritário e defender arduamente a liberdade de expressão, Maria recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 2021.
A jornalista foi eleita uma das personalidades do ano pela Time em 2018 e recebeu o Prêmio Guillermo Cano de Liberdade de Imprensa, concedido em 2021 pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Por defender a livre expressão de opinião e questionar as atitudes do governo com relação ao combate do narcotráfico, Maria Ressa sofre constante perseguição dentro e fora das redes, sem desistir de lutar pelo que acredita.
4. Greta Thunberg
Greta Thunberg é uma estudante e ativista sueca, mundialmente conhecida por sua luta contra o aquecimento global e as mudanças climáticas ocasionadas pela ação humana. Ela tomou conhecimento do ativismo ambiental aos 8 anos de idade e desde então é uma das vozes mais conhecidas e respeitadas no assunto, tendo participado de diversas conferências sobre o meio ambiente e ganhado prêmios por sua luta e engajamento na causa climática.
Seus primeiros protestos se iniciaram em 2018 quando Greta foi com um cartaz para a frente do parlamento da sua cidade anunciar "Skolstrejk för klimatet" (em português, "greve escolar pelo clima"). Sua motivação maior era que o governo de seu país cumprisse o Acordo de Paris, e por esse motivo lançou o movimento Greve Mundial pelo Clima no mesmo ano, reunindo em apenas um ano mais de um milhão de apoiadores em mais de 100 países pelo mundo.
Apesar dos constantes ataques e críticas que Greta e sua campanha sempre receberam por políticos e comentaristas da mídia, sua luta segue constante na garantia de um futuro melhor e mais saudável para as futuras gerações.
5. Laurel Hubbard
Talvez a menos conhecida dessa lista, a neozelandesa Laurel Hubbard é a primeira atleta abertamente transsexual a ter competido nas olimpíadas, tendo sua estreia durante as Olimpíadas de 2020, em Tóquio, no Japão. No início da carreira, nos anos 1990, ela participava das disputas na categoria masculina e levantava cerca de 300 kg em competições domésticas. Porém, em 2001, aos 23 anos de idade, decidiu se afastar do esporte por não se sentir plenamente inclusa em um ambiente que já não era mais seu.
Em 2012, Laurel começou sua transição de gênero com a ajuda de terapias hormonais e se assumiu abertamente uma mulher trans aos 35 anos de idade, decidindo voltar à antiga prática esportiva após uma década afastada – dessa vez na categoria feminina. Logo em 2017 conseguiu ser vice campeã no Mundial de Anaheim e depois conseguiu conquistar uma medalha de ouro no campeonato australiano. Atualmente ela ocupa a 7ª posição do ranking femino da Federação Internacional de Levantamento de Peso (IWF) na divisão acima de 87 kg.
Sua participação nas Olimpíadas é um marco histórico e de grande importância para a diversidade no esporte. E apesar das críticas e ataques sofridos, Laurel recebe apoio do governo da Nova Zelândia e de toda sua equipe, se mostrando um exemplo de perseverança e luta para a causa trans no meio esportivo.
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