O último domingo, 2 de abril, foi o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, para combater os estigmas associados ao transtorno e difundir informações sobre o assunto. Neste ano, o tema foi "Mais informação, menos preconceito", abrindo espaço para discutir e entender sobre o lugar que as pessoas com autismo têm na nossa sociedade.
Por Larissa Capistrano
Diversas pesquisas e discussões sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) vêm sendo feitas, sob variados aspectos, há anos, e houveram algumas mudanças no âmbito jurídico que passaram a proteger os direitos dos indivíduos que fazem parte desse grupo. Essa realidade até faz parecer como se todos os desafios que essas pessoas enfrentam já tivessem desaparecido. Todavia, apesar da evolução da sociedade frente a determinadas perspectivas, persiste um fator que retarda esse progresso: a discriminação.
Segundo noticiado pelo jornal The Guardian, Arianna Alfonzo é uma menina de 12 anos com autismo que foi barrada pela imigração da Nova Zelândia, impedida de se mudar para o país com seus pais. Alegou-se que ela representaria um custo muito alto ao sistema de saúde. Exemplos desse tipo de ataque aos direitos das pessoas com deficiência não faltam nos últimos anos.
Como o informado pelo Irish Examiner, que fez uma matéria sobre a indignação da Instituição de Caridade Nacional para o Autismo na Irlanda (AsIam), contra uma medida discriminatória dos Serviços de Saúde Mental para Crianças e Adolescentes (Camhs), que exclui pessoas com autismo de serem assistidas pelos seus serviços. Já na Carolina do Norte, o The News & Observer reportou um caso de uma mulher com autismo que foi demitida da empresa em que trabalhava por conta de uma "comunicação pouco profissional". Ao pedir por uma explicação sobre esse termo, ela não recebeu orientação, apenas foi exonerada.
Outro exemplo, divulgado no jornal BBC News, noticiou o assassinato de Luz Padilla, mãe de Bruno, que tem autismo severo e constantemente tinha crises dentro de casa, o que incomodava os vizinhos a ponto de ameaçarem e matarem sua mãe, em uma cidade no México. Por fim, o Estado de Minas noticiou um caso sofrido por Miguel e sua família em uma lanchonete do Mc Donald’s, onde uma mulher reclamou de ceder sua vez no caixa recém-aberto para “quem não tinha necessidade”, mesmo que os pais tivessem apresentado a Carteira de Identificação do filho, o que lhes garantia por lei a prioridade no atendimento.
Baseando-nos nesses e em inúmeros outros casos, podemos ver porque a questão da discriminação de pessoas com TEA é grave e tratado a nível internacional. Não é um problema regional, ou que afeta poucas pessoas. Na realidade, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão estadunidense, estima-se que 1 em cada 110 pessoas no mundo tem autismo. Nos Estados Unidos, 1 em cada 36 crianças de 8 anos é diagnosticada com o transtorno, número que foi 22% maior que o estudo anterior, realizado em 2021. Dessa forma, não se trata de algo isolado do nosso ambiente e convívio social, é próximo e abrangente, e a tendência é ter mais casos, mais nuances, o que exige um esforço ainda maior contra nossa própria ignorância e preconceito.
O TEA não é uma epidemia. Crianças e adultos nessa realidade precisam que o mundo democrático em que vivemos se adapte e ofereça meios para inseri-las na sociedade de forma digna, não que as forcem a se encaixar em um padrão de vida neurotípico fechado por ser mais conveniente. As pluralidades do espectro não devem ser ignoradas. Os diferentes graus do autismo precisam ser compreendidos, não só por especialistas, mas sim por cada cidadão do mundo. A empatia aos cuidadores e familiares não deve ser um gesto surpreendente, e sim, algo normal. O autismo já faz parte do nosso mundo há décadas, não há razão para fugir dele, de suas questões e da responsabilidade que exige de nós enquanto seres humanos.
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo não pode se restringir a simples 24 horas. As caminhadas em prol de campanhas desta data, os discursos de grandes personalidades, os posts em redes sociais e a iluminação de pontos turísticos em azul, por exemplo, são ações que são naturalmente pontuais, momentâneas. Em contrapartida, a luta por mais direitos, por mais acessibilidade, por inclusão e por respeito, é além do dia 2 de abril. E isso parte de mim e de você, juntos, além das fronteiras.
Comments