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As mulheres sírias no pior conflito do século XXI

Por João Pedro Lima



Para uma população civil síria acostumada com a paz, a atual guerra tende a ser potencialmente avassaladora: a tortura, o sofrimento e a morte no front ou a deserção parecem ser os únicos caminhos em meio ao caos. Para as mulheres, entretanto, o leque tende a ser maior: estupro e escravidão são pesadelos frequentes no conflito. A guerra se arrasta há nove anos e é um dos motivos para a ONU decretar “a maior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial”.


De fato, os dados referentes às mulheres do povo sírio são desalentadores: de acordo com dados da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), a morte de mulheres e crianças representou cerca de 40% das baixas em hospitais durante o ano de 2015, considerado o período mais sangrento do conflito. Além disso, são frequentes os relatos de torturas e humilhações sofridas por elas em prisões do regime de Bashar Al-Assad.


Por exemplo, o caso da professora de música Muna Muhammad. Torturada após protestos contra o governo do atual ditador, a ação foi denunciada à Corte Penal Internacional, principal órgão jurisdicional internacional da ONU. Embora tipifique a atuação de Assad como crime contra a humanidade, infelizmente, o órgão possui atuação reduzida devido aos princípios do direito penal internacional presentes no Estatuto Constituinte de Roma.


Um ponto positivo, entretanto, pode ser encontrado na atual conjuntura do conflito: a independência feminina, que antes estava sufocada por um poder patriarcal conservador, passou a florescer em um ambiente hostil e com a ausência dos homens. Tal fenômeno, entretanto, não é exclusivo do Oriente Médio mas indica uma maior participação desta minoria nas lutas sociais. Durante a Segunda Guerra Mundial, postos de trabalho predominantemente masculinos foram ocupados por mães e esposas, no que tornou-se a gênese da luta por direitos iguais entre os gêneros.


A maneira mais sensata de solucionar tal situação é por meio do fim do conflito por maneiras pacíficas e do assistencialismo irrestrito às famílias, muitas delas mutiladas, que vivem e sobrevivem nas mais diversas situações degradantes. Entretanto, mostra-se complicado despertar a empatia e o interesse dos principais causadores do conflito, as potências bélicas mundiais, para solucionar a guerra. Dessa forma, esta grave falta para com a humanidade se tornará uma mancha que acompanhará a História dessas mulheres, cujas vidas foram reduzidas, mais uma vez, às sombras de uma disputa por poder desenfreada e justificada pela “segurança nacional” e pela “necessidade econômica”.

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